Durante cinco temporadas o pacato professor de química, Walter White, tornou-se Heisenberg, a personificação do mal. A maldade é algo intrínseco a ser humano e, se cutucar bem, cada um acha sua porção malévola. O problema é quando o sujeito tem um QI muito superior, como o caso de Walter White, em que as possibilidades crescem exponencialmente.
O fim da jornada de Mr. White seguiu o caminho natural e previsível da auto-destruição. Já na primeira cena da quinta temporada, em Live Free or Die, já temos um flashforward do triste futuro do nosso estimado vilão-herói. O que os espectadores não esperavam era uma conclusão tão dura e dilacerante. No décimo quarto episódio da temporada, o fabuloso Ozymandias, os fãs foram aniquilados em sua esperança de um futuro azul, tipo metanfetamina, para o químico. O tiro em Hank matou o personagem e todos que assistiam. Dali em diante, era o começo do precipício.
Se as cortinas estavam se fechando, era hora do último triunfo e aparição final de Heisenberg. E o diabo sabe muito bem pra quem aparece. A cena de White caminhando pela bela casa do casal Schwartz, contemplando tudo aquilo que ele poderia ter sido e lhe roubaram é de um simbolismo sensacional. A sequência só melhora com a calma e frieza sádica de Walter para coagir o casal a fazer o que ele deseja, usando apenas caneta com ponteira sinalizadora.
O episódio desacelera para a reflexão moral de Walter e o derradeiro encontro com Skyler. Fica nítido na esplêndida atuação de Anna Gunn que, parte do monstro chamado Heisenberg nasceu de sua desgastada relação com o marido. As lágrimas da personagem demonstram que apesar de tudo, ainda há uma conexão, mas é tarde demais. Mais impressionante é a sensibilidade estética da série, aqui dirigida pelo criador Vince Gilligan, que retrata o casal dividido por uma coluna de madeira. Seria um futuro caixão?
Partimos então para a conclusão com a genialidade peculiar da dupla Sr. White e Heisenberg. Um carro, uma metralhadora e uma engenhoca. Claro que o discurso óbvio iria acontecer: quem se mete com drogas, mais cedo ou mais tarde se banha em sangue. Nosso herói-vilão conclui sua vingança e ainda tenta pela última vez, mas sem sucesso, ter de volta a confiança do seu sócio Jesse. Resta-lhe o fim onde tudo começou, em um laboratório de produção de metanfetamina.
Breaking Bad nos conduziu em uma jornada árida em que por mais que o espectador ame Mr. White, sabe que um sociopata cretino como ele teve o fim que ele semeou para si mesmo. A série será lembrada pela sua coragem narrativa, seu senso estético elaboradíssimo e fundamentalmente, por um ator espetacular chamado Bryan Cranston, o homem por trás de Mr. White, o químico, e Heisenberg, o monstro. Imagine como deve ser o inferno com Tony Montana, Don Corleone e agora, Mr. Walter Heisenberg White? Maravilhoso, claro.

Breaking Bad (2008-2013)
Criador: Vince Gilligan
http://www.imdb.com/title/tt0903747/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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