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Breaking Bad - Final

O final triunfante de uma das melhores séries da atualidade, Breaking Bad, deixa bem claro o recado para produtores de cinema: é melhor vocês se cuidarem pois a TV quer tomar o seu trono. De chapéu de feltro e óculos escuros, ecoando Heisenberg, a TV americana demonstra uma coragem narrativa e estética que não se vê no cinema já faz um bom tempo. Quando Mr. Walter White, um professor de química que se torna um sociopata, teria espaço na telona? Talvez nos tempos em que havia coragem para produzir obras como Scarface e a trilogia O Poderoso ChefãoBreaking Bad não é apenas uma série dura, triste, fascinante e com cinco temporadas irretocáveis, do começo ao fim. Ela marca uma possível quinada na maneira como os Yankees vão encarrar o produto audiovisual (TV e cinema) que eles amam vender.

Durante cinco temporadas o pacato professor de química, Walter White, tornou-se Heisenberg, a personificação do mal. A maldade é algo intrínseco a ser humano e, se cutucar bem, cada um acha sua porção malévola. O problema é quando o sujeito tem um QI muito superior, como o caso de Walter White, em que as possibilidades crescem exponencialmente.

O fim da jornada de Mr. White seguiu o caminho natural e previsível da auto-destruição. Já na primeira cena da quinta temporada, em Live Free or Die, já temos um flashforward do triste futuro do nosso estimado vilão-herói. O que os espectadores não esperavam era uma conclusão tão dura e dilacerante. No décimo quarto episódio da temporada, o fabuloso Ozymandias, os fãs foram aniquilados em sua esperança de um futuro azul, tipo metanfetamina, para o químico. O tiro em Hank matou o personagem e todos que assistiam. Dali em diante, era o começo do precipício.

Se as cortinas estavam se fechando, era hora do último triunfo e aparição final de Heisenberg. E o diabo sabe muito bem pra quem aparece. A cena de White caminhando pela bela casa do casal Schwartz, contemplando tudo aquilo que ele poderia ter sido e lhe roubaram é de um simbolismo sensacional. A sequência só melhora com a calma e frieza sádica de Walter para coagir o casal a fazer o que ele deseja, usando apenas caneta com ponteira sinalizadora.


O episódio desacelera para a reflexão moral de Walter e o derradeiro encontro com Skyler. Fica nítido na esplêndida atuação de Anna Gunn que, parte do monstro chamado Heisenberg nasceu de sua desgastada relação com o marido. As lágrimas da personagem demonstram que apesar de tudo, ainda há uma conexão, mas é tarde demais. Mais impressionante é a sensibilidade estética da série, aqui dirigida pelo criador Vince Gilligan, que retrata o casal dividido por uma coluna de madeira. Seria um futuro caixão?


Partimos então para a conclusão com a genialidade peculiar da dupla Sr. White e Heisenberg. Um carro, uma metralhadora e uma engenhoca. Claro que o discurso óbvio iria acontecer: quem se mete com drogas, mais cedo ou mais tarde se banha em sangue. Nosso herói-vilão conclui sua vingança e ainda tenta pela última vez, mas sem sucesso, ter de volta a confiança do seu sócio Jesse. Resta-lhe o fim onde tudo começou, em um laboratório de produção de metanfetamina.


Breaking Bad nos conduziu em uma jornada árida em que por mais que o espectador ame Mr. White, sabe que um sociopata cretino como ele teve o fim que ele semeou para si mesmo. A série será lembrada pela sua coragem narrativa, seu senso estético elaboradíssimo e fundamentalmente, por um ator espetacular chamado Bryan Cranston, o homem por trás de Mr. White, o químico, e Heisenberg, o monstro.  Imagine como deve ser o inferno com Tony Montana, Don Corleone e agora, Mr. Walter Heisenberg White? Maravilhoso, claro.



Breaking Bad (2008-2013)
Criador: Vince Gilligan
http://www.imdb.com/title/tt0903747/

Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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