Mads Mikkelsen está sensacional no papel e transmite com força a angústia e tristeza de Lucas diante de toda a injustiça. A cena da igreja é fantástica. Outra que rouba a cena é a diabinha ciumenta Klara (Annika Wedderkopp). A personagem é muito complexa e difícil, e a menina se sai muito bem. Basta verificar o ódio que sentimos dela ao longo do filme. Como odiar uma garotinha tão linda? Simples, talento. Eita atrizinha talentosa.
É impossível ver A Caça e não se lembrar do triste e injusto caso da Escola Base, em São Paulo, no ano de 1994, quando seus proprietários e uma professora foram injustamente acusados de abuso sexual contra crianças. No filme a comunidade condena sem juiz ou júri a denúncia sobre Lucas. Já a Escola Base foi dilacerada pela mídia, que ávida por estampar manchetes sobre o caso, "fez da denúncia a confissão".
O filme já é sensacional em discutir essa nossa ânsia em culpar alguém, condenar sem antes escutar o que o outro tem a dizer sobre o fato. Contudo, a conclusão da trama usando o ato de caçar eleva a história para estratosfera. É de uma sofisticação poética a cena da caçada final, que fiquei tão boquiaberto, que falta-me palavras para adjetivar. Vivemos em comunidade, estabelecemos relações, seguimos regras e somos aceitos em um determinado grupo. Basta uma dúvida sobre o que somos ou o que fazemos, que deixamos de fazer parte do bando e nos tornamos uma presa potencial. O tiro da cena final diz isso. É importante estar sempre atento, pois o próximo tiro pode acertar você.

A Caça (The Hunt - 2013)
Direção: Thomas Vinterberg
http://www.imdb.com/title/tt2106476/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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