O que procuro no cinema são boas histórias e algo que me torne, se possível, um ser humano diferente daquele que eu era antes de ver um filme. Philomena, do diretor Stephen Frears (A Rainha), não vai mudar sua vida por completo, mas vai lhe provocar quanto ao que você entende sobre perdão. A senhora em questão, interpretada com a segurança e destreza habitual de Judi Dench, teve um filho muito nova e, por esses infortúnios da vida, fez uma escolha precipitada e teve a criança retirada dela. Essa triste perda ficou 50 anos aprisionada em seu peito e com a ajuda de um jornalista (Steve Coogan) ela pretende encontrar o paradeiro da criança.
Baseada em fatos reais, a história pode parecer comum e típica desses programas de TV em que parentes separados se reencontram. Contudo, há algo contraditório na junção de Philomena e o jornalista Martin Sixsmith. Ela é suave, gentil, uma cristã convicta, apesar de tudo que lhe aconteceu envolvendo a igreja. Ele é grosso, presunçoso, mas sua perspicácia e faro jornalistico são fundamentais para encaixar as peças que Philomena nunca conseguiu compreender. Esse paradoxo é explorado de maneira brilhante por Freas através da religião. Ela uma cristã devota, ele um ateu convicto. Como seria sua relação com a fé, se seu filho fosse tirado de você por conta da Igreja Católica?
Tudo fica ainda mais complexo quando o cenário disso tudo é a Irlanda, país famoso pela disputa religiosa e política entre católicos e protestantes. Apesar do tema duríssimo, Philomena é um longa agradável e que provoca até boas risadas. A protagonista deseja mesmo é saber se nesses 50 anos, alguma vez seu filho pensou na mãe biológica. Infelizmente, na vida real, os finais não são tão belos como em Hollywood ou nos programas de TV.
Eu adoro filmes com a temática vingança, cujo sentimento de perda versus justiça, pra mim, é muito complexo. Em Philomena temos uma situação propícia para que a protagonista se revoltasse. Ela até tem a fé abalada, assim como Jesus na cruz ("Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Mt 27,46), quando tenta se confessar e sai correndo da igreja sem se benzer com a água benta. Philomena ficou irritada e um tanto perdida com a notícia sobre o filho, mas logo se reergue e volta para o caminho, chegando então ao momento derradeiro do filme - o confronto com as freiras após saber toda a verdade. O resultado desse embate é provocante e não há como o espectador não se sentir como o jornalista Martin Sixsmith, embasbacado com a atitude de Philomena. Ela diz:"É difícil pra mim, mas eu não quero odiar as pessoas. Não quero ser como você". Philomena não diz isso só para Martin, mas também o espectador. E desde então, essa duas frases me incomodam muito, pois penso como o jornalista, ou seja, tem algo errado e cansativo na maneira como venho enxergando a vida. Acho ótimo sair após um filme questionando a si mesmo?
Philomena (2013)
Direção: Stephen Frears
http://www.imdb.com/title/tt2431286/
Gilvan Marçal - gilvan@gmail.com
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